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Puxado pelos Correios, rombo de estatais soma R$ 6,35 bilhões e se aproxima de recorde histórico

Crise dos Correios obriga o governo a congelar gastos de ministérios O Banco Central informou nesta sexta-feira (28) que as empresas estatais federais registra...

Puxado pelos Correios, rombo de estatais soma R$ 6,35 bilhões e se aproxima de recorde histórico
Puxado pelos Correios, rombo de estatais soma R$ 6,35 bilhões e se aproxima de recorde histórico (Foto: Reprodução)

Crise dos Correios obriga o governo a congelar gastos de ministérios O Banco Central informou nesta sexta-feira (28) que as empresas estatais federais registraram um déficit de R$ 6,35 bilhões no acumulado deste ano, até outubro. 🔎Isso significa que o gasto somado dessas estatais foi maior que a receita que elas conseguiram gerar no ano. O rombo parcial das estatais federais nos dez primeiros meses de 2025 já está próximo do resultado negativo de todo ano passado — que foi o pior da história, até então. A série do Banco Central, que tem início em 2002, não considera a Petrobras, a Eletrobras e nem as empresas do setor financeiro (bancos públicos). Entram nesse cálculo empresas como Correios, a Emgepron, a Hemobrás, a Casa da Moeda, a Infraero, o Serpro, a Dataprev e a Emgea. O cálculo do Banco Central considera apenas a variação da dívida, conceito amplamente utilizado em análises fiscais internacionais, enquanto o governo se utiliza do conceito conhecido por "acima da linha" (receitas menos despesas). ➡️O resultado das empresas estatais já está afetando as contas públicas. Por conta do rombo acima do autorizado, o governo foi obrigado a bloquear R$ 3 bilhões no orçamento deste mês. São recursos que poderiam ser liberados para outras áreas. Rombo bilionário de estatais pressiona contas públicas, desafia Orçamento do governo e prejudica investimentos Jornal Nacional/ Reprodução Correios e Eletronuclear O resultado ruim foi agravado, principalmente, pelos Correios, que passa por grave crise fiscal, com forte piora do seu resultado financeiro em 2025. 🔎Os Correios possuem monopólio em serviços como o recebimento, transporte e entrega de cartões-postais e correspondência, além da fabricação de selos. Em 2024, o déficit dos Correios foi de mais de R$ 2,5 bilhões. No acumulado do primeiro semestre de 2025, o prejuízo passou de R$ 4 bilhões – e pode chegar a R$ 10 bilhões até o fim do ano, e de R$ 23 bilhões em 2026, se nada for feito. Em entrevista à GloboNews nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo não tem planos para pôr os Correios à venda, ao contrário do que pretendia o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Não vejo um debate dentro do governo sobre privatizar Correios. Não vejo isso acontecer da parte de nenhum ministro que tenha proposto isso. Inclusive porque fizemos levantamento mais recente sobre a situação dos serviços postais no mundo. E é muito difícil um Estado nacional abrir mão de serviços postais, até porque parte dos quais são mesmo subsidiados para garantir a universalização”, disse Haddad, na ocasião. Depois de 12 trimestres consecutivos de prejuízos, a nova gestão dos Correios aprovou neste mês um plano de reestruturação para garantir liquidez e manter seu papel como operador nacional de logística. O plano reúne três eixos principais: recuperação financeira, consolidação do modelo, e crescimento estratégico. Envolve, também, a captação de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos. Ao mesmo tempo, a Eletronuclear, empresa controla o complexo das usinas Angra 1 e Angra 2 e mantém a estrutura de Angra 3 - obra parada há dez anos, também pediu um aporte de R$ 1,4 bilhão ao Tesouro Nacional. Segundo especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional, só a manutenção dos equipamentos e dessa estrutura de futuro indefinido custa R$ 1 bilhão por ano. Estudos feitos pelo BNDES mostram que a conclusão de Angra 3 custaria cerca de R$ 24 bilhões e que abandonar o projeto também seria caro: de R$ 22 bilhões a R$ 26 bilhões. Nesta semana, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse a jornalistas que a situação da Eletronuclear está "caminhando para uma decisão", mas não quis antecipar o que será feito. "Tomada a decisão, a gente tem de correr para tomar a melhor solução financeira, de continuidade ou não, e todo esse ecossistema ao redor. Importante para o país tomar uma decisão definitiva. Não está no nosso radar fazer um aporte imediato, nesse ano ainda. Tesouro e BNDES vão se dedicar a ter uma solução", disse Rogério Ceron, do Tesouro Nacional, sobre a Eletronuclear. Relatório de Riscos Fiscais da União de 2025 do Tesouro Nacional também lista outras estatais que, por diversas razões, podem vir a precisar de aportes de recursos, agravando o déficit das contas públicas. ➡️Além da Eletronuclear, o relatório aponta sinais preocupantes na Casa da Moeda, na Infraero e nas companhias docas de cinco estados: Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio de Janeiro. Posição do Ministério da Gestão Procurado pelo g1, o Ministério da Gestão informou que é "importante registrar que o déficit no resultado primário não pode ser interpretado como prejuízo operacional". "Das 20 empresas que compõem a estatística fiscal, 15 estão registrando lucro em 2025, das quais 11 apresentaram ao mesmo tempo lucro e déficit fiscal, e as outras quatro, lucro e superávit. Nesses casos, o déficit, em boa parte, decorre do aumento de investimentos. Juntas essas 15 empresas lucraram R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre de 2025. Apenas 5 empresas apresentam déficit e prejuízo ao mesmo tempo", informou o MGI, por meio de nota. O Ministério relembrou que tem informado, e reafirmou, que na "maioria das estatais o déficit decorre, em boa parte, do aumento de investimentos e do pagamento de dividendos". "Até setembro de 2025, as 20 estatais federais consideradas na estatística do Banco Central (BC) investiram R$ 3,2 bilhões e pagaram R$ 1,74 bilhão em dividendos e participação em lucros. Ambos resultados entram na estatística primária como despesa, e podem gerar déficit se tiverem como lastro recursos guardados no caixa ou lucros auferidos em 2024 ou exercícios anteriores", acrescentou. Considerando a Petrobras e os bancos públicos, o Ministério informou, ainda, que as empresas estatais têm registrado lucros operacionais expressivos. "Olhando para o universo das empresas estatais, 39 das 44 estatais registraram faturamento de R$ 655,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, um aumento de 3,1% em relação a igual período do ano passado. Na mesma comparação, o lucro dessas foi expressivo e somou R$ 92,4 bilhões, alta de 54,4% em relação aos primeiros seis meses de 2024. Esse resultado precisa ser considerado quando se avalia a saúde financeira das empresas estatais", concluiu.