População preta no Brasil enfrenta 38% mais poluição e mais dias de temperatura extrema do que brancos, diz estudo
Por que a poluição do ar é um problema climático e de saúde ao mesmo tempo? A população preta no Brasil enfrenta 38% mais poluição e mais dias de tempe...
Por que a poluição do ar é um problema climático e de saúde ao mesmo tempo? A população preta no Brasil enfrenta 38% mais poluição e mais dias de temperaturas extremas do que a população branca. Os dados fazem parte de um levantamento do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), associação civil sem fins lucrativos. O estudo analisou 75 regiões metropolitanas entre 2010 e 2022, cruzando informações do Censo Demográfico — sobre a composição racial dos territórios — com dados de satélite que medem condições ambientais. O objetivo foi identificar como raça e cor estão associadas à exposição a poluição, calor e cobertura vegetal. Segundo o IEPS, a baixa presença de áreas verdes leva diretamente ao aumento das temperaturas e à formação de ilhas de calor urbanas, fenômeno que agrava doenças crônicas como asma, problemas cardiovasculares e renais. Já a exposição a partículas poluentes finas provoca danos respiratórios e neurológicos, e pode levar a morte prematura. O que o estudo mostra ▶️38,3% mais poluição: setores com população inteiramente preta têm concentração de material particulado fino 38,3% maior do que áreas totalmente brancas. O IEPS explica que o índice varia conforme a composição racial do território: se metade da população é preta, por exemplo, a taxa tende a ficar em torno de 19%. ▶️Mais calor: a população preta enfrenta, em média, dois dias a mais por mês com temperaturas acima de 29°C. ▶️Menos áreas verdes: regiões habitadas majoritariamente por pessoas pretas têm 60 pontos percentuais a menos de cobertura vegetal densa em comparação a áreas onde a população branca é concentrada. ▶️Desigualdade por cor da pele: as diferenças diminuem quando a comparação é entre população parda e branca, o que indica, segundo o IEPS, uma “acentuação das desigualdades conforme o tom de pele”. Por que isso acontece? O instituto aponta que a escravização no Brasil, somada à ausência de políticas de reparação, resultou na periferização da população negra, que passou a ocupar áreas mais afastadas dos centros urbanos — muitas vezes regiões de risco, como encostas e margens de rios. “As desigualdades de exposição a fenômenos ambientais nocivos estão associadas a essa distribuição espacial desigual da população negra. [...] Essa discriminação sistemática com base em fatores ambientais é conhecida como racismo ambiental”, afirma o relatório. Segundo o levantamento, o racismo ambiental no país decorre da segregação espacial que empurra populações negras para territórios mais degradados e vulneráveis. O que pode ser feito Para enfrentar o problema, o IEPS defende: ▶️planejamento urbano com aumento de cobertura vegetal e criação de áreas verdes; ▶️ações para mitigar ilhas de calor; ▶️fortalecimento da atenção primária à saúde; ▶️sistemas de alerta precoce para desastres e eventos extremos. Lucas Falcão, pesquisador do IEPS e um dos autores do estudo, afirma que o tema exige políticas públicas focalizadas: “Enfrentar essa realidade exige uma abordagem territorializada e integrada, que inclua questões ambientais e de saúde, como o fortalecimento de políticas específicas para esse grupo no SUS.” A realização da COP 30 em Belém motivou o governo federal a elaborar o Plano de Ação de Belém para a Adaptação do Setor da Saúde às Mudanças Climáticas, que menciona a necessidade de justiça climática para populações negras, indígenas e tradicionais.