Grupo Refit já esteve envolvido em outras investigações e polêmicas; entenda
Megaoperação contra sonegação de impostos e lavagem de dinheiro mira o Grupo Refit A megaoperação deflagrada na manhã desta quinta-feira (27) foi apenas ...
Megaoperação contra sonegação de impostos e lavagem de dinheiro mira o Grupo Refit A megaoperação deflagrada na manhã desta quinta-feira (27) foi apenas mais uma das investigações envolvendo o Grupo Refit, dono da antiga Refinaria de Manguinhos e de diversas outras empresas do setor de combustíveis. ➡️ Batizada de Polo de Lobato, a ação mobilizou mais de 600 agentes públicos e teve 190 alvos, entre pessoas físicas e empresas ligadas direta ou indiretamente ao grupo. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Comandado pelo empresário Ricardo Magro, o grupo é considerado uma das maiores devedoras de impostos em São Paulo, no Rio de Janeiro e na União — e já esteve envolvido em uma série de polêmicas. Entenda abaixo como o Grupo Refit, antiga Refinaria de Manguinhos, passou de marco nacional a empresa suspeita de fraude, lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem econômica e tributária. LEIA MAIS Megaoperação mira o Grupo Refit, maior devedor de impostos de SP O que é o ICMS e como funciona a alíquota para o setor de combustíveis Quem é Ricardo Magro, empresário à frente da Refit e alvo de megaoperação A compra da Refinaria de Manguinhos e sua reestruturação A Refinaria de Manguinhos — que chegou a ser um marco nacional nos anos 1950 por ter sido criada com capital totalmente nacional e privado — foi comprada pelo Grupo Andrade Magro em 2008. Na época, o grupo já atuava no segmento de postos de combustíveis por meio da Rede Tigrão. Com a compra, o grupo também adquiriu a subsidiária Manguinhos Distribuidora e retomou imediatamente os projetos da refinaria, que enfrentava dificuldades financeiras desde o início dos anos 2000. A retomada efetiva da produção, porém, só ocorreria em 2010 — mesmo ano em que a Distribuidora Manguinhos apareceu pela primeira vez no ranking de vendas da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Interdições, investigações, fraudes e dívidas Desde então, diversas polêmicas passaram a envolver a Refinaria de Manguinhos e a Distribuidora Manguinhos. Veja algumas delas abaixo. 2013 Segundo reportagem de O Globo de 2013, as instalações chegaram a ser interditadas parcialmente pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e pela Secretaria Estadual do Ambiente por causa de um vazamento de álcool. A reportagem também aponta que as duas companhias deviam cerca de R$ 1 bilhão ao Fisco e eram alvo de investigação da Secretaria Estadual da Fazenda do Rio de Janeiro. Além disso, foi nesse ano que a empresa entrou com pedido de recuperação judicial. 2016 Em 2016, a Refinaria de Manguinhos foi citada na Operação Lava Jato — investigação deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) que revelou um amplo esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos. À época, reportagens indicaram que o ex-diretor da Petrobras e da BR Distribuidora Nestor Cerveró afirmou, em delação premiada, que teria sido pressionado por políticos a comprar a Refinaria de Manguinhos como parte do esquema de corrupção. No mesmo ano, o empresário e ex-advogado Ricardo Magro, atual dono do Grupo Refit, foi um dos alvos da Operação Recomeço, deflagrada pela PF e pelo MPF para investigar um esquema de desvio de recursos dos fundos de pensão Petros (Petrobras) e Postalis (Correios). Segundo o MPF, as investigações encontraram indícios de que o dinheiro captado foi desviado ilegalmente para outros fins, especialmente para contas bancárias dos investigados e de pessoas físicas e jurídicas ligadas a eles. Magro era sócio do Grupo Galileo à época e foi absolvido no caso. 2020 Em 2020, uma decisão do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) sobre fiscalização realizada na Refinaria de Manguinhos trouxe novas conclusões de que a empresa estaria envolvida em fraude fiscal. Segundo o documento, a Refit estaria se passando por refinaria para pagar menos tributos na importação de combustíveis. De acordo com o relatório, uma empresa do Grupo Refit importava combustível pronto e o enviava para um depósito. Depois, essa companhia emitia nota fiscal afirmando que o produto havia sido processado e o vendia para a Refinaria de Manguinhos como se tivesse passado por refino. Segundo formulário de referência publicado pelo Grupo Refit em seu site de relações com investidores, o auto de infração — ou seja, o valor total a ser pago pela empresa — somava R$ 249,2 milhões. 2024 Em dezembro de 2024, a Polícia Civil de São Paulo realizou uma operação para investigar um suposto esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro que envolveria o empresário e ex-advogado Ricardo Magro, dono do Grupo Refit. O alvo principal da operação foi a Fera Lubrificantes, sediada em Guarulhos e registrada em nome do pai e do avô de Magro. A investigação teria começado após a apreensão de um caminhão que transportava cocaína no Pari, na Zona Leste da capital, em 2023. O veículo pertencia à Transportadora Rawa, que teria pago um valor suspeito a um posto de gasolina na Marginal do Tietê, cujo proprietário teria negócios com Vinicius Gritzbach — delator do PCC executado em 8 de novembro de 2024 no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O posto seria um investimento usado na lavagem de dinheiro do crime organizado. No local, foram apreendidos contratos com uma formuladora de combustíveis suspeita de operar um esquema de carregamento sem comprovante fiscal. Essa formuladora seria ligada a Magro. Ainda segundo a polícia, até aquele momento, Magro teria uma dívida de R$ 7,4 bilhões de ICMS no estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, a dívida era estimada em cerca de R$ 8,2 bilhões. 2025 Em setembro, em desdobramento das Operações Cadeia de Carbono e Carbono Oculto — que revelaram um esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis —, a ANP anunciou a interdição cautelar da Refinaria de Manguinhos. Segundo a agência, foram encontradas diversas irregularidades, incluindo indícios de importação irregular de combustíveis prontos, uso de tanques não autorizados pela ANP, ausência de controles técnicos essenciais e descumprimento de medidas cautelares anteriores. A Receita e a ANP também apreenderam navios carregados com combustível importado irregularmente da Rússia. Nesta quinta-feira (27), a megaoperação que mirou o Grupo Refit e outros alvos ligados direta e indiretamente à companhia investiga o envolvimento dos suspeitos em organização criminosa e na prática de crimes contra a ordem econômica e tributária, além de lavagem de dinheiro. Segundo os investigadores, o esquema causou prejuízo de R$ 26 bilhões aos cofres estaduais e federal. Segundo os investigadores, foi detectado o uso de fintechs e fundos de investimento no esquema. As fraudes ocorriam por meio de uma rede de colaboradores, holdings, offshores, meios de pagamento e fundos de investimento. O dinheiro ilícito era reinvestido em negócios, propriedades e outros ativos por meio de fundos de investimento, dando aparência de legalidade e dificultando o rastreamento. O Fisco identificou 17 fundos ligados ao grupo, que somam patrimônio líquido de R$ 8 bilhões. Em sua maioria, são fundos fechados com um único cotista — geralmente outro fundo —, criando camadas de ocultação. Também há indícios de que administradoras colaboraram com o esquema, omitindo informações à Receita. Entenda o esquema. Segundo a Receita Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), a maior parte da dívida do Grupo Refit relativa ao ICMS decorre de uma conduta mantida por “longos anos”: distribuir combustível sem recolher os impostos devidos. A ação aconteceria por meio de uma "engenharia empresarial, que utiliza pessoas jurídicas interpostas em todas as fases de distribuição, as quais adquirem o produto e revendem". "Com isso, o grupo econômico opera sistematicamente em déficit operacional, enquanto as demais empresas distribuem o combustível e transferem os lucros aos reais beneficiários por meio de fundos e offshores", informou o Fisco e a PGFN. No âmbito federal, as dívidas do grupo com a União decorreriam de "fraudes aduaneiras e de tributos sobre produção e faturamento, com reflexos na balança comercial e nas relações internacionais, além da evasão de divisas". Sede da Refit, em Benfica, na Zona Norte do Rio Divulgação/Receita Federal
Fonte da Reprodução:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/11/27/grupo-refit-polemicas-entenda.ghtml