Governo instala 'legos de concreto' para barrar erosão em praia do ES; prefeitura embarga obra
Obra de concreto nas praias da Serra: moradores e surfistas reclama de intervenções Blocos gigantes de encaixe feitos de concreto que lembram peças de Lego e...
Obra de concreto nas praias da Serra: moradores e surfistas reclama de intervenções Blocos gigantes de encaixe feitos de concreto que lembram peças de Lego estão no centro de um impasse ambiental e administrativo na Serra, na Grande Vitória. A estrutura, usada pelo governo do Espírito Santo para tentar conter a erosão marítima na Curva da Baleia, em Jacaraípe, levou a prefeitura a embargar a obra na terça-feira (18). O projeto é executado pelo Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES), que defende a tecnologia como solução inédita no estado para frear o avanço do mar em trechos que já ameaçam a rodovia ES-010. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp A intervenção está orçada em R$ 17,4 milhões e é dividida em dois trechos: 305 metros na Curva da Baleia e 232 metros na Enseada de Jacaraípe (Capuba). A etapa de Capuba, iniciada em julho, já está em finalização. Na Curva da Baleia, as obras começaram há uma semana e têm prazo estimado de conclusão para meados do próximo ano. Não tem nada a ver com o brinquedo Apesar da aparência semelhante ao famoso brinquedo dinamarquês de montar, os chamados "legos de concreto" não têm relação com a marca. São blocos pré-moldados, de até 1,5 tonelada cada, que se encaixam entre si. Segundo o DER-ES, a técnica é inspirada em soluções europeias usadas para conter erosão costeira, especialmente em países como os Países Baixos. Obra de "lego de concreto" gera impasse entre prefeitura e governo do Espírito Santo Reprodução/TV Gazeta LEIA TAMBÉM: ITAPARICA: criança de 3 anos é estuprada dentro de condomínio em Vila Velha; morador é preso CARIACICA: motoboy é morto em casa e família suspeita de crime motivado por relação com mulher casada O diretor-geral do DER-ES, José Eustáquio de Freitas, afirmou que a estrutura é uma resposta a um problema antigo na região. “Temos uma forte influência de erosão costeira que impacta na nossa rodovia ES-010. Já tivemos várias intervenções, mas sempre precisamos renovar esse enroncamento. Estamos iniciando uma obra altamente tecnológica que vai resolver definitivamente o problema dessa erosão”, disse. Embargo e versões divergentes O embargo da prefeitura ocorreu após denúncias de moradores e uma notificação do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A administração municipal afirmou não ter recebido nenhum pedido formal de licenciamento por parte do DER-ES. Obra de "lego de concreto" gera impasse entre prefeitura e governo do ES Divulgação DER-ES Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), sem uma solicitação protocolada na cidade não é possível iniciar qualquer análise técnica, nem exigir estudos ambientais. Diante da dúvida, a prefeitura decidiu interromper temporariamente os trabalhos. O DER-ES contesta. Em nota, o órgão afirmou ter recebido da prefeitura a Dispensa de Licenciamento Ambiental nº 5.303/2025, confirmada por um ofício e um parecer técnico da Semma. O documento, segundo o departamento, dispensa o licenciamento para atividades de manutenção e melhoramento de estradas e rodovias desde que atendam normas ambientais vigentes. Procurado novamente nesta quarta (19), o DER-ES reafirmou que houve dispensa do licenciamento e disse manter diálogo com a prefeitura e o Ministério Público para esclarecer dúvidas sobre os documentos apresentados e sobre taxas já pagas pela empresa responsável. Protestos e críticas A obra motivou protesto na manhã de terça-feira (18), reunindo moradores, surfistas, comerciantes e ambientalistas na Curva da Baleia. O grupo criticou impactos ambientais, falta de diálogo com a comunidade e o risco às formações coralinas submersas. O oceanógrafo Lucas Bermudes alerta para possíveis danos aos corais. “Essas pedras fazem com que a energia da onda aumente. Então, a onda bate na pedra jogando areia para cima dos corais, soterrando as partes submersas”. Obra de "lego de concreto" gera impasse entre prefeitura e governo do Espírito Santo Reprodução/TV Gazeta O comerciante Dior Fernandes defende outra solução. “Essa obra de concreto não precisava ter sido feita. O que era para fazer é um paisagismo, um aterramento com engorda com grama e restinga, para não impactar”. Para o surfista Felipe Lacerda, faltou comunicação com a população. “Ninguém dessa região foi avisado, ninguém tinha consciência dessa obra. A gente quer uma resposta desses órgãos que estão fazendo esse absurdo aqui na nossa praia”. MPES aciona órgão federal O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) disse ter recebido denúncia sobre possíveis irregularidades na obra. Como a área é reconhecida pela presença de formações coralinas e como ponto de desova de tartarugas marinhas, e já foi alvo de ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) em 2016, o caso foi encaminhado ao órgão federal para avaliação. O MPF foi procurado, mas não havia respondido até a publicação desta reportagem. Obra de "lego de concreto" gera impasse entre prefeitura e governo do Espírito Santo Reprodução/TV Gazeta Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo