Quatro filhotes de lobo-guará são flagrados em Boa Esperança, MG
Quatro filhotes de lobo-guará são flagrados em Boa Esperança, MG Um registro raro e emocionante chamou atenção em Boa Esperança, no sul de Minas. No dia 2...

Quatro filhotes de lobo-guará são flagrados em Boa Esperança, MG Um registro raro e emocionante chamou atenção em Boa Esperança, no sul de Minas. No dia 28 de agosto de 2025, quatro filhotes de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) foram flagrados próximos a um haras da região. O vídeo foi feito por Roberto Cruz, gerente do haras, que estava acompanhado do amigo Júlio no momento da cena. “Eu já tinha visto lobo-guará, mas nunca com filhotes. Pra mim foi uma surpresa muito grande, fiquei emocionado de registrar essa cena tão de perto”, contou Roberto, que mora em Lavras e trabalha em Boa Esperança. Filhotes de lobo-guará são flagrados em Boa Esperança, MG Roberto Cruz Nascimento e cuidados iniciais O biólogo Rogério Cunha de Paula, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio (Cenap), explica que o nascimento dos filhotes ocorre geralmente entre abril e junho, podendo se estender até julho em alguns casos. “Já foram registradas ninhadas com até seis filhotes. Em teoria, poderiam nascer até oito, porque as fêmeas têm quatro pares de mamas. Mas na prática nunca vimos mais de seis em vida livre. Com o tempo, muitos não sobrevivem”, comenta. Segundo o pesquisador, os pequenos começam a sair da toca entre dois e três meses de idade. “É nesse momento que conseguimos ter ideia de quantos chegaram até ali, mas não significa que todos da ninhada inicial tenham sobrevivido. Muitas vezes a mãe muda os filhotes de lugar e, se percebe um indivíduo frágil, pode até abandoná-lo para economizar energia e garantir a sobrevivência dos demais”, explica. O lobo-guará tem um comportamento de defesa muito forte em relação aos filhotes Leonardo Bordin/iNaturalist Os filhotes permanecem com os pais por 7 a 8 meses, podendo em alguns casos chegar a 10 meses. “Nos primeiros dois meses, o macho ajuda intensamente a fêmea no cuidado parental, ficando próximo ao ninho, protegendo e até deslocando os filhotes quando necessário. Depois, eles começam a aprender a caçar com os pais e ganham mais independência”, completa. Proteção e comportamento O lobo-guará tem um comportamento de defesa muito forte em relação aos filhotes. “Já presenciei mães tentando me atrair para longe do ninho quando eu chegava perto. Esse cuidado é fundamental porque os riscos são grandes: cães domésticos, tratores, atividades humanas e até outros predadores podem ameaçar a ninhada”, diz Rogério. O lobo-guará habita áreas de vegetação aberta incluindo campos, cerrados e florestas de cerrado Christopher Borges/iNaturalist Outro detalhe curioso é a forma como os lobos organizam o ninho. Ele funciona como uma espécie de galeria ou labirinto. “Os filhotes não defecam dentro, justamente para não atrair predadores pelo cheiro. Eles saem para urinar e defecar e depois voltam ao interior da galeria”, descreve. Locais de abrigo Para garantir proteção, os pais escolhem locais estratégicos, muitas vezes em capim alto amassado, formando túneis e passagens. Em áreas agrícolas, também podem utilizar talhões de cana ou até ocos de cupinzeiros. “A fêmea busca sempre áreas de difícil acesso, afastadas e mais seguras. Se percebe ameaça, pode mudar o ninho de lugar, mas esse deslocamento representa risco, já que algum filhote pode ficar para trás”, reforça o pesquisador. O lobo-guará é um animal típico do Cerrado e maior canídeo da América do Sul fernandofariasbirding/iNaturalist Encontros raros e riscos de resgate equivocado Segundo Rogério, avistar filhotes não é impossível, mas exige estar no lugar certo e no momento certo. “Os encontros diretos são mais difíceis porque a fêmea procura esconder os filhotes. Por isso, a maior parte dos registros é feita por armadilhas fotográficas. Quando há confiança no ambiente, como em áreas onde não há perturbação humana, pode ser mais fácil de filmar”, explica. O lobo-guará é onívoro e sua dieta incorpora uma grande variedade de itens, que variam de acordo com a estação do ano hbook91/iNaturalist O especialista alerta ainda para um problema recorrente: os resgates equivocados. “A partir do terceiro mês, os filhotes começam a se aventurar e, pela inocência, podem se afastar um pouco do ninho. Muitas pessoas encontram e acreditam que estão abandonados, mas na verdade estão apenas explorando. Isso acaba gerando resgates desnecessários”, conclui. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente