Megafábricas: como indústrias gigantes têm transformado pequenas cidades de MS
Investimentos de indústrias de celulose em MS Megafábricas de celulose têm escolhido cidades pequenas em Mato Grosso do Sul como polos. Com a chegada dos inv...
Investimentos de indústrias de celulose em MS Megafábricas de celulose têm escolhido cidades pequenas em Mato Grosso do Sul como polos. Com a chegada dos investimentos, os municípios enfrentam dificuldades para ampliar serviços básicos e atender o crescimento da população. Veja o vídeo acima. Na região leste do estado, Inocência e Ribas do Rio Pardo vivem essa transformação. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp A Suzano, empresa paulista de celulose, se instalou em Ribas do Rio Pardo em 2021. Desde então, a economia local mudou de forma acelerada. O crescimento trouxe impactos também na infraestrutura. A cidade precisa se adaptar para oferecer serviços básicos à população. O orçamento municipal saltou de R$ 116 milhões em 2020 para R$ 340 milhões em 2025. Mais da metade da arrecadação vem do eucalipto. Crescimento desenfreado impacta na estrutura Segundo autoridades, o maior desafio é controlar o crescimento. Em cinco anos, a população subiu de 22 mil para 30 mil habitantes, segundo a prefeitura. Parte dos moradores vive em ocupações irregulares. Tatiane Mendes de Souza, trabalhadora de serviços gerais, mora em um barraco porque não conseguiu pagar aluguel. “É muito difícil pagar aluguel, é muito caro. E aqui foi melhor pra mim. É difícil morar no barraco. Quando chove, molha”. A prefeitura estima que 420 famílias vivem em condições precárias. O diretor de habitação, Wilson Aparecido dos Santos, afirma que mesmo com a entrega de 100 casas, a demanda continua alta. “A demanda é maior que 400 casas, para que as pessoas possam sair dessas zonas de risco”. Nem todos conseguiram se manter no emprego. Márcio Antônio de Farias, pedreiro, machucou o joelho e buscou outra renda. Com ajuda de um colega cuteleiro, aprendeu a fabricar ferramentas para garantir o sustento. “Eu não consigo exercer minha função. Um colega meu é cuteleiro, aí ele me deu umas dicas e agora tô tirando pelo menos o do arroz e feijão”. Educação pressionada pela superlotação O número de matrículas em Ribas do Rio Pardo subiu de 4,3 mil para 5,2 mil neste ano. A prefeitura afirma que busca soluções diárias para atender a demanda. “Essa é uma dificuldade que realmente o município enfrenta. Decisões judiciais praticamente todos os dias obrigam a abrir vagas para crianças que estão chegando”, disse o prefeito Roberson Luiz Moureira (PSDB). A Escola Estadual Maria Augusta Costa Ramos da Silva, a maior da cidade, atende mais de mil alunos. O prédio foi ampliado no ano passado e ganhou uma estrutura em contêiner para receber estudantes da educação especial. Segundo a diretora, Edervânia dos Santos Malta, a capacidade triplicou. “Nós tínhamos uma sala pequena onde atendíamos 20 alunos. Hoje estamos atendendo 60 da educação especial.” Uma nova escola estadual deve ser inaugurada em 2026, com capacidade para 2 mil estudantes. Parceria entre governo e empresas Segundo Jaime Verruck, da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), o poder público e as empresas trabalham juntos para reduzir os impactos do crescimento. “No momento do licenciamento, criamos o Plano Básico Ambiental (PBA). Avaliamos o que precisa ser ampliado em escolas e hospitais, e as empresas são obrigadas a investir”, explicou. A Suzano aplicou R$ 22 bilhões no plantio de florestas e na fábrica que produz 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano. Durante as obras, em 2024, cerca de 10 mil trabalhadores de várias regiões do país atuaram na cidade. Hoje, a operação mantém 3 mil empregos diretos e terceirizados. Para reduzir os impactos, a empresa investiu R$ 300 milhões em Ribas do Rio Pardo. Leonardo Mendonça Pimenta, diretor de operações industriais da Suzano, afirma que um comitê foi criado em 2021 para definir prioridades de investimento. “Entre elas estava a ampliação do Hospital Municipal, já que prevíamos aumento da população e da demanda por saúde”, disse. O Hospital Municipal registrou 56,5 mil atendimentos em 2023. Em 2025, o número subiu para 58,3 mil. O senador Nelsinho Trad (PSD) alerta para o risco de epidemias em cidades em rápido crescimento. “É preciso prevenção e orientação em saúde pública, especialmente contra doenças sexualmente transmissíveis”, afirmou. A Suzano também ergueu uma delegacia, um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e moradias para trabalhadores. Mesmo assim, os desafios continuam. O prefeito defende que o Plano Básico Ambiental (PBA) precisa priorizar a fase de operação da indústria. “Em Ribas, o PBA foi voltado para a construção, mas a operação não ficou contemplada”, disse Roberson. Impactos regionais Além de Ribas do Rio Pardo, outras 11 cidades de Mato Grosso do Sul também sofrem efeitos diretos e indiretos da expansão da celulose. Em novembro, prefeitos e representantes se reuniram em Brasília para discutir soluções conjuntas. O senador Nelsinho Trad (PSD) defende planejamento de longo prazo e investimentos eficazes. “O Governo Federal não pode tratar essas 12 cidades da mesma forma que outras que não recebem investimentos desse porte. É preciso recursos da União para infraestrutura, habitação e saúde”, afirmou. Inocência enfrenta pressão por moradia Em Inocência, a população saltou de 8,4 mil para cerca de 15 mil habitantes com a chegada de trabalhadores da indústria e das florestas. O prefeito Toninho da Cofapi (PP) afirma que a maior demanda continua sendo por moradias. “Os preços dos aluguéis subiram bastante por conta da demanda. Isso dificulta para quem já mora aqui”, disse. Saúde é pressionada com megafábrica Os impactos começaram em 2023, com a instalação da empresa chilena Arauco. O hospital público viu a média de atendimentos diários subir de 30 para 70 em pouco tempo. Em novembro deste ano, foram 2,9 mil procedimentos. A rede particular também ampliou o atendimento. “Temos três postos de saúde e estamos melhorando para acompanhar o crescimento. Se não, somos atropelados como outras cidades”, disse o prefeito. O Plano Básico Ambiental (PBA) de Inocência prevê investimento de R$ 85 milhões pela Arauco. O recurso será usado para construir um novo hospital, dois postos de saúde, sede da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e 620 casas. O presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore), Júnior Ramires, alerta que o poder público precisa acompanhar o ritmo do setor. “A infraestrutura é essencial para o crescimento. Sem ela, os investimentos podem parar”, disse. Megafábrica em Ribas do Rio Pardo (MS). Suzano/Reprodução Veja vídeos de Mato Grosso do Sul: