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'Era o sonho da vida dele ter uma filha': diz mãe de jovem morto em Osasco após intoxicação por metanol

Mãe de jovem morto em Osasco após intoxicação por metanol diz que ele sonhava em ser pai “Era o sonho da vida dele ter uma filha.” A frase é de Mariene...

'Era o sonho da vida dele ter uma filha': diz mãe de jovem morto em Osasco após intoxicação por metanol
'Era o sonho da vida dele ter uma filha': diz mãe de jovem morto em Osasco após intoxicação por metanol (Foto: Reprodução)

Mãe de jovem morto em Osasco após intoxicação por metanol diz que ele sonhava em ser pai “Era o sonho da vida dele ter uma filha.” A frase é de Mariene Ferreira, mãe de Daniel Ferreira, de 23 anos, morto após intoxicação por metanol em Osasco, na Grande São Paulo. O jovem era motorista de aplicativo e morava na Favela da Fazendinha. Ele deixou uma filha de 11 meses. Daniel é a única morte confirmada por metanol entre três casos investigados na cidade. Outros dois óbitos seguem sob suspeita. A polícia e a Vigilância Sanitária apreenderam na cidade 70 caixas de gin em um fornecedor que teria vendido bebidas a bares da região. O dono de uma adega também foi preso por vender produtos vencidos. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 SP no WhatsApp Segundo a mãe, Daniel passou mal depois de um churrasco com amigos. “Quando foi no outro dia, meu filho começou a sentir dor de cabeça, mal-estar. Foi no médico, aí tudo bem. Quando foi de madrugada, 1h30, levou ele de novo [ao hospital]. Quando chegou no meio da rua, teve convulsão. Quando chegou lá [no hospital], já estava entubado”, contou Mariene. Ela lembra que o filho ajudava a família e sonhava em construir uma vida melhor ao lado da esposa e da filha. “Ele ajudava toda a família. Era o sonho da vida dele ter um filho. Teve uma filha e curtiu 11 meses”, disse. Daniel Antonio Francisco Ferreira, de 23 anos, quinta vítima confirmada de intoxicação por metanol no Brasil Arquivo pessoal A mãe também relatou que Daniel era muito próximo da família e lamentou o que considera uma tragédia evitável. “A esposa dele sem trabalhar. E aí? Como vive? Pagando aluguel, terminando a casa dela...”, afirmou, emocionada. A Polícia Civil tenta identificar a origem das bebidas adulteradas. Segundo os investigadores, há indícios de ligação entre fábricas clandestinas e revendedores que abasteciam bares e adegas da cidade. Investigação Policiais técnicos do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro) analisam seis celulares apreendidos em São Bernardo do Campo. O objetivo é identificar ligações entre uma fábrica de bebidas adulteradas, que funcionava em uma casa no bairro do Alvarenga, e uma distribuidora no Sacomã, na Zona Sul da capital. A distribuidora foi um dos alvos de busca e apreensão de locais ligados ao bar em que Bruna Araújo, de 30 anos, bebeu com amigos antes de morrer. Bruna e dois amigos foram intoxicados após consumir bebidas compradas no local. Um dos sócios do bar chamou a atenção dos investigadores ao relatar, em depoimento, que entrou para o negócio depois de ganhar dez carros novos em uma rifa, pela qual pagou R$ 70. Segundo ele, vendeu os veículos e usou o dinheiro para investir no bar. Quatro carros foram apreendidos. Nos depoimentos, os sócios disseram que não costumavam pedir nota fiscal das bebidas e que a única vez em que o fizeram foi para justificar a compra do lote servido a Bruna e aos amigos. Afirmaram também que sempre compraram os destilados da mesma distribuidora. Já o responsável pela distribuidora, ouvido duas vezes, afirmou que não se lembra de quem comprou as bebidas vendidas ao bar e que o estabelecimento poderia ter adquirido o produto de outra pessoa. Marcos Antônio Jorge Júnior, Bruna Araújo e Marcelo Lombardi são três dos cinco mortos confirmados por ingestão de bebida alcoólica com metanol. Reprodução/TV Globo Segundo o delegado Ettore Capalbo Sobrinho, da Delegacia de Investigações sobre Crimes Contra o Meio Ambiente (Dicma) de São Bernardo, as apurações indicam coincidências entre as mortes de Bruna e de Marcelo Lombardi, de 45 anos, outro homem intoxicado, e apontam para a mesma distribuidora. O delegado destacou que o dono da empresa não apresentou notas fiscais e se recusa a informar os fornecedores. De acordo com ele, os depoimentos dos donos do bar são contraditórios, principalmente em relação ao faturamento e à aquisição da empresa, e os próprios suspeitos acabaram se comprometendo durante os interrogatórios. Na casa usada como fábrica clandestina, a polícia encontrou galões para armazenar etanol, 1,8 mil garrafas cheias e vazias, além de milhares de tampas e rótulos usados para falsificar bebidas. Os policiais chegaram ao endereço durante as investigações sobre a morte do empresário Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, a primeira vítima confirmada de intoxicação por metanol em São Paulo. O dono do bar onde ele bebeu antes de passar mal confessou ter comprado bebidas de um revendedor não autorizado. Outro homem, Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos, também morreu após consumir bebida no mesmo local. Das nove garrafas de gin e vodca apreendidas no bar, oito apresentaram altos percentuais de metanol, a maioria com concentração acima de 40%. Segundo a polícia, a fábrica clandestina comprava etanol de postos de combustíveis, que usavam metanol para “batizar” álcool e gasolina, e o produto era depois utilizado na produção de bebidas falsificadas. LEIA TAMBÉM: Como vodca russa guardada por família ajudou a salvar vítima de metanol Derrite diz que etanol adulterado tinha mais de 40% de metanol Fábrica clandestina comprava etanol adulterado de postos de combustíveis Casos e mortes Confira o balanço desta semana dos casos confirmados de intoxicação por metanol: Segunda: 15 Terça: 18 Quarta: 20 Quinta: 23 Sexta: 25 Também aumentou o total de análises clínicas concluídas: 37 novos casos foram descartados apenas nas últimas 24 horas, somando 189 resultados negativos desde o início da investigação. O governo do estado informou que o próximo balanço dos casos será divulgado na segunda-feira (13). As mortes confirmadas por ingestão de bebida adulterada com metanol: Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, morador da cidade de SP Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos, morador da cidade de SP Marcelo Lombardi, de 45 anos, morador da cidade de SP Bruna Araújo, de 30 anos, moradora de São Bernardo do Campo Daniel Antonio Francisco Ferreira, de 23 anos, morador de Osasco Antídoto Mais de 2 mil doses de fomepizol, antídoto usado para tratar casos de intoxicação por metanol, chegaram na quinta-feira (9) ao centro de distribuição do Ministério da Saúde, em Guarulhos, Região Metropolitana de São Paulo. Ao todo, o Ministério da Saúde comprou 2.500 doses com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Conforme o ministério, 288 doses serão encaminhadas aos hospitais paulistas ainda nesta quinta para tratar pacientes. Na sexta-feira (10), todos os outros estados, com casos suspeitos ou não, também irão receber doses. Veja como será a distribuição: São Paulo: 288 doses Paraná: 84 doses Pernambuco: 68 doses Mato Grosso do Sul: 20 doses Goiás: 52 doses Ceará: 64 doses Rio Grande do Sul: 80 doses Espírito Santo: 28 doses Rio de Janeiro: 120 doses Piauí: 24 doses Minas Gerais: 152 doses Bahia: 104 doses Acre: 16 doses Distrito Federal: 20 doses Mato Grosso: 28 doses Paraíba: 28 doses Rondônia: 28 doses Alagoas: 16 doses Amapá: 24 doses Amazonas: 16 doses Maranhão: 32 doses Pará: 48 doses Rio Grande do Norte: 60 doses Roraima: 24 doses Santa Catarina: 56 doses Sergipe: 16 doses Tocantins: 16 doses Ainda conforme o órgão, mil doses vão permanecer no galpão do centro de distribuição para serem encaminhadas aos hospitais quando necessário. O fomepizol será usado apenas sob acompanhamento médico, seguindo a norma técnica do Ministério da Saúde que determina: "o medicamento será prescrito para pacientes que chegarem aos serviços de saúde com sintomas clínicos depois intoxicação, que tenham ingerido destilados no intervalo entre 6 e 72h e que apresentarem alterações em dois exames laboratoriais". Além do fomepizol, o SUS vai continuar usando o etanol como antídoto. Protocolo padrão Como as primeiras horas são decisivas para salvar vidas, a Secretaria da Saúde de São Paulo orientou um protocolo padrão para os pacientes que procuram as unidades de saúde com sintomas persistentes ou piora, após consumo de bebidas destiladas. Entre os sintomas, estão: Sonolência Tontura Dor abdominal Náuseas Vômitos Confusão mental Taquicardia Visão turva Fotofobia Convulsões Destruição de garrafas A Justiça paulista autorizou a destruição imediata de 100 mil vasilhames apreendidos no inquérito que apura responsabilidades pela adulteração de bebidas. A solicitação feita pela Polícia Civil foi autorizada pelo juiz Lucas Bannwart Pereira, do Fórum Criminal Barra Funda do Tribunal de Justiça de São Paulo. No despacho, o magistrado destaca que os milhares de recipientes foram encontrados em uma suposta empresa de recicláveis que comercializava garrafas de diferentes bebidas destiladas sem controle sanitário, de origem ou de destinação, além de não realizar procedimentos de higienização.