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Arábia Saudita trava negociações sobre plano para transição energética, dizem observadores da COP30

Mulher segura leque com a frase “Fora os lobistas do petróleo” durante protesto do movimento Dívida para o Clima em Belém (PA), nesta terça-feira (11). ...

Arábia Saudita trava negociações sobre plano para transição energética, dizem observadores da COP30
Arábia Saudita trava negociações sobre plano para transição energética, dizem observadores da COP30 (Foto: Reprodução)

Mulher segura leque com a frase “Fora os lobistas do petróleo” durante protesto do movimento Dívida para o Clima em Belém (PA), nesta terça-feira (11). REUTERS/Adriano Machado A Arábia Saudita, um dos líderes mundiais de petróleo, vem se posicionando contra a tentativa de um plano prático para abandonar os combustíveis fósseis na COP30. Durante rodada de negociação, representantes do país disseram que são "contra a inclusão de novas metas”. Isso pode ser um impasse para o Brasil, que quer apresentar ao fim da conferência um mapa do caminho – um plano prático para abandonar os combustíveis fósseis. Antes, um contexto: o país é fortemente dependente da exportação de petróleo. Em 2024, o setor representou cerca de 60% da receita do governo e mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) com a produção de petróleo bruto e gás natural. Isso reforça sua posição contrária ao debate sobre o abandono de combustíveis. Durante uma reunião, representantes disseram que as discussões na COP30 deveriam seguir “sem novas metas”. “Precisamos de uma troca de pontos de vista dos países de uma forma não punitiva, que leve em consideração o contexto de cada país, sem novas metas”. E ainda disseram: “Não precisamos tomar novas decisões que vão contra outras agendas”. Entenda a colcha de retalhos que é formada para os debates na CO E você pode se perguntar: o que significa não tomar novas decisões? Desde a COP 28 em Dubai, no ano de 2023, os países concordaram que é preciso fazer uma "transição para longe dos combustíveis fósseis". No termo em inglês, o texto final citava "transitioning away from fossil fuels". No entanto, deixou um ponto cego: não disso, como e quando isso seria feito. Na COP29, em Baku, a Arábia Saudita liderou o bloqueio a qualquer tentativa de incluir menções diretas aos combustíveis fósseis no texto final do acordo. À época, o representante saudita, Albara Tawfiq, foi explícito ao afirmar que “o Grupo Árabe não aceitará nenhum texto que tenha como alvo setores específicos, incluindo combustíveis fósseis”. Já em Belém, antes de a COP começar, o delegado Mohammad Ayoub protestou, na noite de domingo, contra a inclusão na agenda de um item sobre como responder ao provável excesso de 1,5 °C de aquecimento. Combustíveis fósseis x implementação O uso de combustíveis fósseis é a maior causa de emissões de gases do efeito estufa e que causam o aquecimento global. Ou seja, definir como o mundo vai fazer isso é urgente. O que o Brasil quer nesta COP é apresentar um “mapa do caminho”. Esse “mapa” estabeleceria quem faz o quê, até quando e com quais recursos. É por isso que o presidente Lula está chamando essa de a COP da implementação. Mapa do caminho: por que o conceito pode se tornar uma das medidas do sucesso da COP30? 'O mundo precisa de um mapa de caminho claro para acabar com essa dependência dos combustíveis fósseis', diz Lula Por que a opinião da Arábia Saudita importa e o que pode acontecer? Mas, a Arábia Saudita vem se posicionando contra. Isso é uma questão porque as decisões nas conferências precisam ser consensuais. Ou seja, todos precisam concordar. O que os analistas que estão acompanhando as negociações nos bastidores explicam é que os representantes do país têm se articulado para tentar impedir que novos assuntos avancem. A especialista Camila Jardim, especialista em política internacional do Greenpeace, explica que eles têm criado oposição aos avanços e que isso pode colocar em risco uma resposta concreta da COP. “Eles fazem parte de um dos grupos mais difíceis, porque são grandes produtores de petróleo. A posição que eles estão tomando indica um risco de, em última instância, a COP não conseguir dar uma resposta concreta, já que tudo precisa de consenso”. “Eles estão atrasando a resposta que os países poderiam dar coletivamente neste momento de urgência. Tomam posições coordenadas e vemos isso em todas as salas: a posição da Arábia é de impedir ou arrastar qualquer resposta à lacuna de ambição e à falta de ação climática”, afirma. A especialista Stela Herschmann, do Observatório do Clima, reforça que a Arábia Saudita vem alegando nas discussões que já há um acordo feito e que nada mais deve ser incluído, já em uma posição de trava a qualquer avanço. “Eles dizem que já existe uma arquitetura de acordo e temos que fazer ele valer, implementar como está. Que mais nada deve ser feito, não querem nada de novo”, explica. Ainda dá tempo de acordo? Esse é só o segundo dia de negociações e conversas na conferência, que começou nesta segunda-feira (10). A expectativa dos especialistas é que a diplomacia brasileira encontre um caminho para o plano de ação que estão propondo. Para os analistas, o discurso do presidente na cúpula dos líderes, antes do início da conferência, deixa claro que o objetivo do país é um plano de ação e que não sair da COP com isso custaria caro aos planos do país. COP30 entra no 2º dia com aprofundamento de negociações